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23.2.14

Bate-papo com Sereias! (2) | Gabriela Miranda



Bate-papo nº 2
Gabriela Miranda
21/02/2014




RedLalita: Fico feliz que vamos ter nosso bate-papo hoje. Agradeço seu interesse em participar. 
GabrielaMiranda: Imagina! Eu que agradeço, é um prazer!

RL: Como foi que o tema sereia surgiu em sua vida? 

GM: Bom, eu sempre gostei de sereias, desde bem pequena, na verdade, desde quando consigo me lembrar... Eu era apaixonada pela Ariel, mas por ela ser uma sereia, não foi exatamente ela que fez me apaixonar por sereias... Se eu pudesse dar um palpite, acho que foi porque cresci na beira do mar e sempre teve muita festa para Iemanjá, e eu sempre fantasiei com isso, com um reino submarino... Como minha mãe é ligada a muitos tipos de práticas místicas, ela sempre me contou histórias de Atlântida e também dos elementais, seres da natureza, como as ondinas que são referentes à água... Então acho que juntou tudo. Crenças espirituais, com contos de fadas infantis, festas populares... Mas não me lembro de não conhecer ou não pensar em sereias, de não ter bichos marinhos de pelúcia. Não me lembro de não pensar nelas!

RL: Não se lembra de não pensar nelas? Então posso considerar que sereias de alguma forma fazem parte da sua vida? 

GM: Na adolescência entrei para a Umbanda e descobri ser filha de Iemanjá... Então elas estão super conectadas com a minha religiosidade também. Com certeza o mar faz parte da minha vida por ser o lugar de onde vim, por assim dizer.

RL: Isso é muito interessante! Esta afinidade com um ‘ser’ marinho e depois descobrir que é filha de Iemanjá, deve ter dado uma sensação firme interna de 'estou no caminho certo', quanto a esta conexão. 

GM: Acho que sim... Mas eu sempre fui muito devota de Iemanjá, acho que era o caminho natural que ela me "adotasse"! (risos)
Quando era pequena, pelos quatro ou cinco anos, minha mãe conta que eu gritava em casa para ela me levar para as procissões do dia dois de Fevereiro! Minha casa é bem na beira do mar, minha mãe nem tinha como fugir... Não foi surpresa ela ser meu orixá de cabeça. Eu sempre associei o mar com a vida, beleza, transformação, então acho que meu amor por sereias vem do meu amor pelo mar.

RL: Isso é lindo! Então levar a sereia para a dança foi um caminho natural, certo? 

GM: Sim! Quando estava na dança do ventre ainda, eu fiz um número com meu grupo de dança que se referia aos cinco elementos (terra, ar, fogo, água e éter), e no número da água eu usei muito a referência de sereias... Infelizmente não chegamos a apresentar esse número, mas isso ficou na minha cabeça, que poderia levar o mar, a água, as sereias, para a dança... Como o Tribal tem mais liberdade criativa, acabou que juntou tudo... E um dia a música certa apareceu! Uma aluna querida me enviou, aí vi que era a hora! 
Quando fiz meu primeiro solo eu não conhecia nenhuma bailarina que tivesse feito esse tipo de associação entre sereias e dança, somente tinha ouvido da Nanda Najla que ela tinha sido convidada para interpretar esse conceito, mas nunca vi fotos ou vídeos. Pedi permissão a ela por conhecê-la para também desenvolver esse conceito, mesmo tendo passado quase um ano que ela havia comentado o assunto. Ela me disse que a arte é para todos e que era para eu ir fundo! Depois que fiz alguns solos (desenvolvo esse conceito com diferentes músicas e figurinos desde 2012) vi alguns grupos trabalhando com o tema e achei fantástico! Agora tem todo um segmento de coreografias e figurinos, acho isso demais! Até troquei figurinhas com uma bailarina europeia que tem a coreografia de sereias mais fantástica que já vi, e me sinto sortuda de ter achado outras bailarinas que compartilham essa paixão. Até porque já fui bastante ridicularizada por curtir tanto esse assunto... Então quando acho outras "malucas" que nem eu fico muito feliz!

RL: Então você tem vários trabalhos em dança com o tema sereia? 

GM: Eu acho que já desenvolvi uns três solos pelo que consigo me lembrar, e dancei cada um deles mais de uma vez... Tenho uma coreografia de grupo também pronta para o DSA - Companhia da qual sou diretora artística do elenco tribal - que ainda não foi para o palco... E pretendo continuar com o tema sim, há tanto a ser explorado!

RL: Você já pensou em viver a experiência de ser uma sereia? Mergulhar com cauda, aparecer para as pessoas? 

GM: É engraçado sabe, porque eu viajo muito, então mesmo em movimentos clássicos de Dança do Ventre e ATS eu vejo conexão com sereias... O Arabic, por exemplo, é o movimento mais sereístico ever! (risos)! Mas eu realmente associo esse meu lado mais com a dança... Acho que não conseguiria colocar mesmo uma cauda e nadar... Me sentiria uma farsante, não sei! Gostaria de viver a experiência um dia só para saber como ia me sentir... Mas nunca pensei a sério nisso, de investir em algo assim. Acho que a minha sereia interna é mesmo bailarina!

RL: Tem um vídeo muito engraçado de sereias dançando com cauda no palco, não sei se já viu. É muito divertido, me deu a impressão de que o desejo de subir ao palco foi maior do que o possível obstáculo de não ter pernas. 

GM: Ah eu já vi sim! Já me enviaram vídeos assim!

RL: (risos)
 

GM: Eu acho interessante! Já vi até meninas vestidas com figurinos de dança e cauda!(risos) Mas acho que isso não é pra mim... Prefiro o recurso das saias sereias. Acho que eu gosto de ter pernas também!

RL: Você falou que já foi ridicularizada por curtir sereias? Como isso aconteceu e como você lidou com isso? 

GM: Ah, mais na adolescência... Depois que a gente cresce aprende a se impor (ou deveríamos) e acaba que ninguém ter mais coragem de ridicularizar... Mas eu sempre tive imagens de sereias no meu quarto e coisas assim, livros, desenhos (eu desenhava sereias sempre) e tinha alguns amigos que achavam isso muito idiota! (risos) Mas acabou que eles não continuaram sendo meus amigos por muito tempo ;) 
No mundo da dança o povo é tão aberto ou tão doido que nem dá bola para essas excentricidades... Então tudo bem. Mas confesso que rolou um medinho a primeira vez que dancei com o conceito de sereia bem explícito.

RL: Especialmente no Tribal, acho que estão todos ocupados demais com sua própria loucura para ter tempo de estranhar a do outro. 

GM: EXATAMENTE! Todos estão ocupados demais com a sua própria loucura, perfeito...

RL: Você teve medo de não ser compreendida na dança, usando o tema sereias?
 

GM: Sim, MUITO! Mas sabe que houve uma feliz coincidência? No mesmo show que estreei minha sereia a Kilma Farias dançou de Iemanjá! Eu fiquei muito feliz com isso, eu não sabia desse solo dela quando fiz o meu e nem ela do meu, é claro... Mas acabou que tivemos dois temas de água e com personagem, acho que ficou mais fácil pra eu encarar o público. E depois que dancei houve uma receptividade tão grande que só me encorajou!
As pessoas me pedem pra repetir o solo, eu até achei que seria uma coisa que dançaria uma vez só, mas acabou que não quis largar mais o conceito!

RL: Entendo seu medo, é difícil levar um tema para o palco que foge do convencional e não saber se vão entender do que estamos falando (até mesmo no TF acabam tendo temas convencionais). 

GM: Sim, é isso mesmo!
Mas ainda assim prefiro levar temas próprios, que ninguém que eu conheça tenha desenvolvido ainda, do que ficar repetindo o que já foi feito...

RL: Sim. Personalidade, que bom! Afinal é um alívio saber que o Tribal Fusion Belly Dance nos dá esta possibilidade de nos apropriarmos de nós mesmas para nos expressarmos, não tem porque apenas repetir o 'pretinho básico'. Entende o que quero dizer com isso? 

GM: Claro, odeio lugar-comum! E o Tribal Fusion é o estilo perfeito para trabalhar o nosso material interno no plano externo! Temos as ferramentas necessárias ao estudar a Técnica, mas as especificidades do estilo têm que vir de dentro! A principal característica do Estilo para mim é isso! Personalidade.

RL: Lembrando-me da Kilma dançando de Iemanjá e sua primeira sereia no palco, vejo que até neste momento sua mãe foi estar ao teu lado.  

GM: Você diz minha mãe terrena ou minha mãe Iemanjá?

RL: Mãe Iemanjá :) 

GM: De qualquer jeito, acho que Iemanjá sempre está... Mesmo quando não faço solos e coreografias específicas de sereias, eu trago muito da ideia da água comigo, do lento, do tranquilo, da serenidade do mar... E ao mesmo tempo da força, da transformação! Eu falei que viajo muito na minha cabeça, mas não consigo ser diferente... Minha dança é muito na minha cabeça! Entende o que quero dizer?
Eu reflito muito sobre o significado de tudo, da linguagem corporal em si, do significado de cada gesto e movimento, do figurino, maquiagem, música... Eu penso muito! Acho que meu lado psicóloga não consegue evitar racionalizar as coisas. 
Acho que minha mãe Iemanjá está sempre presente na minha vida, afinal ela também é o orixá da cabeça e do PENSAMENTO.

RL: Entendo. É um processo interno profundo antes de ser externo. Esta é a beleza deste estilo de dança para mim, te dar a chance de trazer para fora o que você pode expressar como dança. 

GM: Exatamente! Concordo totalmente.

RL: Para encerrar quero te propor uma brincadeira que tenho feito, assumindo que você é uma sereia de fato, me diga algo como sereia. O que a Gabriela Miranda sereia da terra firme quer deixar como recado aos leitores? 

GM: hahaha! Acho que essa é fácil! Vou citar ‘um outro’ ser do mar muito sábio: "Quando a vida te decepciona, o que você faz? Continue a nadar, continue a nadar, nadar, nadar..."

RL: Você citou um ser do mar? Você conhece um ser do mar que fala? (risos) 

GM: só pra constar, essa citação é da Dori do Procurando Nemo! (risos)

RL: (risos) 

GM: sim, ela é um peixinho!

RL: Ok, eu conheço este carinha também. 

GM: (risos)

RL: Gabriela, muito obrigada por este bate-papo, foi muito divertido. Espero que tenha sido para você também. 

GM: Foi sim, muito mesmo! Gostei de falar das minhas sereíces! Obrigada por me convidar, foi um prazer!

RL: Adorei suas sereíces. O prazer foi todo meu. Felicidades! 

GM: Obrigada! Felicidades pra você também!